Os pais devem saber diferenciar os comportamentos comuns da idade a sinais que possam indicar patologias.
Na
última semana, o Brasil acompanhou o caso de um aluno de 10 anos que
atirou na professora e depois disparou contra a própria cabeça, no
município paulista de São Caetano do Sul. Os motivos ainda são
desconhecidos, mas o fato serve de alerta para pais e responsáveis.
A
superficialidade das relações pessoais e modos de vida, com pouco
incentivo à reflexão, o imediatismo e o estímulo à valorização da
aparência são características da contemporaneidade e, de certa forma,
algumas das causas para o crescente número de crianças e adolescentes
que têm recorrido às clínicas de psiquiatria. Estudo recente da
Organização Mundial da Saúde demonstra que 20% das crianças e
adolescentes apresentam algum tipo de transtorno emocional. No Brasil,
os números indicam entre 8% e 12%.
Para
a Dra. Vera Blondina Zimmermann, psicanalista e coordenadora do Centro
de Referência da Infância e Adolescência da UNIFESP (CRIA), os pais têm
"dificuldade em desenvolver nas crianças e adolescentes a capacidade de
reflexão, tolerância à frustração e enfrentamento da vida. Trata-se de
um problema da pós-modernidade, em que é proibido estar triste,
envelhecer, etc.”. A especialista alerta ao fato de haver um exagero no
tratamento da depressão infantil à base de remédio, considerado mágico
em situações desfavoráveis.
Durante
a infância, detalhes de comportamento devem ser observados pelos pais. A
criança que não brinca ou o faz sozinha são indícios a serem
investigados. Nesta fase, os sintomas depressivos são mascarados por
agitação, quedas freqüentes, infecções, e até problemas com apetite. Na
fase da adolescência, os sinais preocupantes incluem a ausência de
relações sociais, improdutividade escolar, agressividade ou agitação
excessiva, mudanças abruptas de humor, irritabilidade, ansiedade, entre
outros, cujas consequências podem ser irreparáveis. Atualmente, a
segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos é o
suicídio, perdendo apenas para os acidentes com automóveis.
A
intensidade dos sentimentos depressivos pode representar uma patologia,
que embora possa ter origem biológica, é potencializada ou minimizada
conforme o ambiente em que o indivíduo vive. Assim, os pais são
responsáveis e têm papel fundamental no desenvolvimento de suas crianças
e adolescentes, cabendo-lhes a função de observar quaisquer desvios de
personalidade ou conduta. No entanto, muitos pais acabam por ignorar a
postura de seus filhos. “Quando estão apenas correndo atrás da
sobrevivência ou de formas fúteis de encarar a vida não perceberão o que
está acontecendo a tempo de agir", salienta a psicanalista.
Contudo,
discernir os sintomas comuns da idade a alguma patologia torna-se um
desafio aos pais. Assim como todo adulto, as crianças têm o direito de
sentirem tristeza e passar por crises. Aliás, saber enfrentar as
frustrações contribui para a formação de indivíduos capacitados para
encarar as agruras da vida. Mas, quando os sintomas tornam-se intensos e
contínuos, a depressão precisa ser tratada. “O que temos assistido como
novidade é um tipo de suicídio cuja origem está na impulsividade e
mesmo, no prazer em desafiar riscos”, diz a Dra. Vera Zimmermann. Ela
cita casos em que o jovem fica apertando uma corda para ver o quanto
aguenta a falta de ar e num descuido morre, ou ainda suicídios que fazem
público na internet. “Trata-se de adolescentes que além de depressão,
podem ter quadros de maior desorganização psíquica, como a psicose. Na
adolescência eclode a patologia de forma mais abrupta”, reforça.
Portanto,
a questão é complexa e envolve, sobretudo, o acompanhamento permanente
dos pais na criação dos filhos. Uma sociedade que prega o supérfluo em
contraponto à reflexão tende a gerar frutos incapazes de lidar com as
dificuldades da vida. Cabe aos pais transmitir princípios e valores, a
fim de gerar indivíduos conscientes e felizes.
FONTE: SAUDEEMPAUTA