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sábado, 23 de abril de 2011

Poliomielite

A Poliomielite é uma doença em erradicação pela vacinação dirigida pela OMS, causada por um vírus, que causa paralisia por vezes mortal. Vacinação com vacina Sabin a criança Vírus da Poliomielite Vírus da Poliomielite ao Microscópio Eletrônico Grupo: Grupo IV ((+)ssRNA) Família: Picornaviridae Género: Enterovirus Espécie: Enterovirus poliovirus O poliovírus é um enterovírus, com genoma de RNA simples (unicatenar) de sentido positivo (serve diretamente
como RNAm para a síntese proteica).
Existem três sorotipos, distintos
imunologicamente, mas idênticos nas
manifestações clínicas, excetos 85%
dos casos de poliomielite paralítica (o mais grave tipo) que são causados
pelo sorotipo 1. O vírus não tem envelope bilipídico, é recoberto apenas pelo capsídeo e é extremamente resistente às condições
externas,, Epidemiologia É mais comum em crianças ("paralisia infantil"), mas também ocorre em
adultos, como a transmissão do
poliovírus "selvagem" pode se dar de
pessoa a pessoa através de contato fecal-oral, o que é crítico em situações nas quais as condições sanitárias e de higiene são inadequadas. Crianças de pouca idade, ainda sem hábitos de
higiene desenvolvidos, estão
particularmente sob risco. O poliovírus
também pode ser disseminado por
contaminação fecal de água e alimentos. Todos os doentes, assintomáticos ou
sintomáticos, expulsam grande
quantidade de vírus infecciosos nas
fezes, até cerca de três semanas
depois da infecção do indivíduo. Os seres humanos são os únicos
atingidos e os únicos reservatórios,
portanto a vacinação universal pode
erradicar essa doença completamente. Progressão e sintomas O período entre a infecção com o
poliovírus e o início dos sintomas (incubação) varia de 3 a 35 dias. A
descrição seguinte refere-se à
poliomielite maior, paralítica, mas esta
corresponde a uma minoria dos casos.
Na maioria o sistema imunológico destrói o vírus em alguma fase antes
da paralisia (ver mais à frente). A infecção é oral e há invasão e
multiplicação do tecido linfático da faringe (tonsilas ou amígdalas). Ele é daí ingerido e sobrevive ao suco
gástrico, invadindo os enterócitos do intestino a partir do lúmen e aí multiplicando-se. As manifestações
iniciais são parecidas com as de outras
doenças virais. Podem ser semelhantes às infecções respiratórias
(febre e dor de garganta, gripe) ou gastrointestinais (náuseas, vômitos, dor abdominal). Em seguida
dissemina-se pela corrente sangüínea e vai infectar por essa via os órgãos.
Os mais atingidos são o sistema nervoso incluindo cérebro, coração e o fígado. A multiplicação nas células do sistema nervoso (encefalite) pode ocasionar a destruição de neurônios motores, o que resulta em paralisia
flácida dos músculos por eles inervados. As manifestações clínicas da infecção
são variadas e podem ser descritas em
quatro grupos: Doença assimptomática: mais de
90% dos casos são
assimptomáticos, com limitação
efectiva pelo sistema imunitário da infecção à faringe e intestino. Não
há sintomas e a resolução é rápida
sem quaisquer complicações. Poliomielite abortiva ou Doença
menor: ocorre em 5% dos casos,
com febre, dores de cabeça, dores de garganta, mal estar e vómitos,
mas sem complicações sérias. Poliomielite não-paralítica com meningite asséptica: ocorre em 1 ou 2% dos casos. Além dos
sintomas iniciais da doença menor,
ocorre inflamação das meninges do cérebro com dores de cabeça fortes
e espasmos musculares mas sem
danos significativos neuronais. Sequelas de Poliomielite Paralítica na perna direita de criança Poliomielite paralítica ou doença
maior: de 0,1 a 2% dos casos. Após
os três ou quatro dias depois dos
sintomas iniciais da doença menor
desaparecerem (ou cerca de 10
dias depois de se iniciarem), surge a paralisia devido a danos nos neurónios da medula espinal e córtex motor do cérebro. A paralisia flácida (porque os
membros afectados são maleáveis
ao contrário da rigidez que ocorre
noutras doenças) afecta um ou
mais membros, e músculos faciais.
O número de músculos afectados varia de doente para doente e
tanto pode afectar apenas um
grupo discreto como produzir
paralisia de todos os músculos do
corpo. Se afectar os músculos
associados ao sistema respiratório ou o centro neuronal medular que
controla a respiração
subconsciente directamente, a
morte é provável por asfixia. A
paralisia respiratória é devida à
poliomielite bulbar, que afecta esses nervos: a taxa de
mortalidade da variedade bulbar é
75%. As regiões corporais
paralisadas conservam a
sensibilidade. Se o doente
sobreviver alguns poderão recuperar alguma mobilidade nos
músculos afectados, mas
frequentemente a paralisia é
irreversível. A mortalidade total de
vítimas da poliomielite paralítica é
de 15 a 30% para os adultos e 2 a 5% para crianças. A síndrome pós-poliomielite atinge
cerca de metade das vítimas de
poliomielite muitos anos depois da
recuperação (por vezes mais de 40
anos depois). Caracteriza-se pela
atrofia de músculos, presumivelmente pela destruição no tempo da doença
de muitos neurônios que os
inervavam. Com a perda de atividade
muscular da velhice, a atrofia normal
para a idade processa-se a taxas
muito mais aceleradas devido a esse fator. Diagnóstico e tratamento O diagnóstico é por detecção do seu DNA com PCR ou isolamento e observação com microscópio
electrónico do vírus de fluidos
corporais. A poliomielite não tem tratamento
específico. No passado preservava-se
a vida dos doentes com poliomielite
bulbar e paralisia do diafragma e outros músculos respiratórios com o
auxílio de máquinas que criavam as
pressões positivas e negativas
necessárias à respiração por eles
(respiração artificial ou pulmão de
ferro). Antes dos programas de vacinação, os hospitais pediátricos de
todo o mundo estavam cheios de
crianças perfeitamente lúcidas
condenadas à prisão do seu "pulmão
de ferro". "Pulmão de ferro" assistindo doente com paralisia total A única medida preventiva eficaz
contra a doença é a vacinação. Há dois
tipos de vacina: a Salk e a Sabin. A Salk consiste nos três sorotipos do vírus
inactivos com formalina ("mortos"), e foi introduzida em 1955 por Jonas Salk. Tem a vantagem de ser estável, mas é cara e tem de ser injectada três
vezes, sendo a protecção menor. A
Sabin, que começou a ser testada em
humanos em 1957 e foi licenciada em 1962, consiste nos três sorotipos vivos mas pouco virulentos. É de
administração oral, baixo preço e alta
eficácia, mas em 1 caso em cada
milhão os vírus vivos tornam-se
virulentos e causam paralisia. Nos
países onde a poliomielite ainda existe deve ser usada a Sabin porque o risco
baixo é mais que contrabalançado
pelo risco real da verdadeira
poliomielite. Nos países onde ela já foi
erradicada, a vacina Salk é mais que
suficiente e os riscos de paralisia menos aceitáveis. O modo de aquisição do poliovírus é
oral, através de transmissão fecal-oral
ou, raramente, oral-oral. A
multiplicação inicial do poliovírus
ocorre nos locais por onde penetra no
organismo (garganta e intestinos). Em seguida dissemina-se pela corrente
sangüínea e, então, infecta o sistema
nervoso, onde a sua multiplicação
pode ocasionar a destruição de células
(neurônios motores), o que resulta em
paralisia flácida. Uma pessoa que se infecta com o
poliovírus pode ou não desenvolver a
doença. Quando apresenta a doença,
pode desenvolver paralisia flácida
(permanente ou transitória),
meningite ou, eventualmente, evoluir para o óbito. Desenvolvendo ou não
sintomas o indivíduo infectado elimina
o poliovírus nas fezes, o qual pode ser
transmitido para outras pessoas por
via oral. A transmissão do poliovírus
ocorre mais freqüentemente a partir do indivíduo assintomático. A
eliminação é mais intensa 7 a 10 dias
antes do início das manifestações
iniciais, mas o poliovírus pode
continuar a ser eliminado durante 3 a
6 semanas. Sendo uma doença neurológica
crônica, não há tratamento específico
para a poliomielite . Os sequelados da
poliomielite devem submeter a
programas de reabilitação, para
fortalecer os músculos atrofiados. Nos casos mais graves onde os músculos
respiratórios foram afetados, os
pacientes deverão ser submetidos a
tratamentos com pulmões mecânicos. História A poliomielite é conhecida desde a pré-história. Em pinturas do antigo Egipto já aparecem figuras com membros flácidos atrofiados típicos da
doença. O Imperador romano Claudius, conhecido por um defeito físico que
até hoje se associa ao significado do
seu nome, o verbo claudicar (Do lat.
claudicare.), foi prejudicado em uma
das pernas, possívelmente por
poliomielite em sua infância. A primeira descrição médica da doença
foi feita por Jakob Heine em 1840 enquanto Karl Oskar Medin foi o
primeiro a estudá-la seriamente em 1890, o que levou à sua denominação alternativa, doença de Heine-Medin. Em 1988, a OMS com o apoio de Rotary International, no seguimento da erradicação do vírus da varíola, estabeleceu o objectivo de através de
campanhas de vacinação erradicar o poliovirus do planeta até ao ano 2000. Mapa da incidência da doença em Dezembro de 2002. Azul, Zonas livres; Vermelho, Zonas mais endémicas; Amarelo, Zonas afetadas, porém com baixa intensidade; Cinza: Não há insidência da doença; Laranja: Em investigação. A Europa, a Austrália, América do Norte e a América do Sul já se
encontram livres. Na África há focos
activos na Nigéria, onde alguns imãs fundamentalistas recentemente
declararam que a vacina é uma
conspiração americana para esterilizar
e infectar com SIDA/AIDS os homens nigerianos; enquanto na Ásia, na Índia ainda ocorrem casos todos os anos,
bem como no Afeganistão e no Paquistão. Recentemente, a Fundação Bill e
Melinda Gates deu um importante
donativo que foi igualado por Rotary International no sentido de completar a última fase de erradicação da
poliomielite. O último caso de transmissão
selvagem em Portugal foi em 1986, e
no Brasil em 1989.