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domingo, 27 de novembro de 2011

Adolescente de 14 anos pega arma do pai para brincar, atira acidentalmente e mata irmão de apenas 11 anos

Adolescente de 14 anos pega arma do pai para brincar, atira acidentalmente e mata irmão de apenas 11 anos

Quando a Polícia Militar de Bauru divulgou nas escolas da cidade a campanha de desarmamento infantil, que incentiva crianças a doar suas armas de brinquedo, Lucas Cardoso Gomes, 11 anos, fez sua parte: entregou aos policiais o revólver de plástico que tinha em casa. Como recompensa, teve seu nome incluído em um sorteio e, há cerca de um mês, foi premiado com uma bicicleta. “Ele fez isso e hoje morreu de tiro. Isso que é o duro da vida”, lamentava Antonio Cardoso, 66, avô materno de Lucas.
Sentado em frente à casa do menino, na quadra 1 da rua Emilio Alberto Ciniciato, no Núcleo Edson Silva, Antonio se mostrava inconsolável.
A tragédia aconteceu na manhã desta sexta-feira (25). Lucas estava em casa com o irmão mais velho, que tem 14 anos.
Ambos viviam com o pai, o agente penitenciário Adriano José Gomes, 37, que havia saído para dar carona a um vizinho. “Eu não dirijo. Ele foi me levar na auto-elétrica. Foi coisa de cinco minutos”, contou Davi da Silva, 49, vizinho da família e colega de Adriano.
Quando Davi e Adriano retornaram, a PM já estava em frente à casa. “Se a gente imaginasse isso, tinha levado as crianças junto”, lamentava Davi.
Disparo
A arma utilizada no crime, um revólver calibre 38, está registrada no nome de Adriano. Ele trabalha como agente na Penitenciária 1 de Balbinos, a 72 km de Bauru.
De acordo com informações dos policiais que atenderam a ocorrência, Adriano teria deixado a arma sobre o armário da cozinha, e saído com a intenção de voltar logo.

Porém, com o pai fora de casa, o filho mais velho pegou o revólver para brincar. Então, aconteceu o disparo que acertou a cabeça de Lucas. Os meninos estavam na sala da casa. Lucas morreu no local.
Desesperado, o irmão mais velho foi para a rua gritando por socorro.
“Cheguei na casa e o menino estava sofá, agonizando. O outro estava desesperado, falava ‘matei meu irmão”, relata o pedreiro Wellington dos Santos, 28. Foram os vizinhos que chamaram a polícia e o resgate.
Família
O avô dos meninos explica que eles tinham uma relação saudável. “Brigavam como acontece em qualquer família, coisa de irmão”, diz.
A mãe dos meninos, Sandra Cardoso, está separada de Adriano há dois anos e não mora na residência.
Ela esteve no local e foi encaminhada ao PS Central, junto com o filho mais velho e o ex-marido. Todos estavam em estado de choque. O casal tem ainda outro filho, de 4 anos.
Crime com arma já abalou a cidade
Em 2010, outro crime provocado por arma de agente penitenciário abalou Bauru: o ex-agente penitenciário Alexandre Zambonaro matou Maurício Yamanoi (o Japa) e José de Nazaré Mendes.
Autor do disparo não tinha porte de arma
O crime de 2010 aconteceu no bar Japa Lalá, propriedade de Maurício, no Higienópolis. Alexandre, que fazia tratamento psiquiátrico, não tinha porte de arma.
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Anos é o tempo máximo de detenção previsto para casos de omissão de cautela em guarda de arma de fogo.
Para delegado, trata-se de um homicídio culposo
De acordo com o delegado plantonista que atendeu a ocorrência, Mario Henrique de Oliveira, a morte do garoto de 11 anos será tratada como um caso de homicídio culposo – quando não há intenção de matar.
Ele explica que o adolescente autor dos disparos não deve ser julgado de acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) por se tratar de um acidente. “O ECA exige que, para que o adolescente seja apreendido, deve haver a intenção de matar.”
O delegado cita ainda o parágrafo 5º do artigo 121 do Código Penal, que faz referência aos casos de homicídio culposo. O parágrafo diz: “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”. O delegado ressalta que a família está visivelmente abalada.
A cena do crime foi preservada pela perícia técnica. A polícia deverá ouvir os envolvidos assim que eles estiverem em condições de prestar depoimento, já que todos encontravam-se em estado de choque.
De acordo com o boletim de ocorrência, Adriano chegou a informar aos policiais que não costuma deixa a arma em casa, mas havia deixado desta vez, porém, escondida e sem munição. “Vamos apurar se houve omissão de cautela de guarda de arma”, diz o delegado