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terça-feira, 1 de novembro de 2011

OBESIDADE INFANTIL

A obesidade infantil é algo que não é mais problema apenas dos países desenvolvidos. Há alguns anos o problema também passou a afetar as crianças brasileiras. De acordo com os médicos, o tratamento da doença depende mais da família do que os pais podem imaginar. Os adultos são os responsáveis por fazer as compras da casa e por dar dinheiro para que os jovens se alimentem na escola. As duas práticas, no entanto, estão completamente relacionadas ao sobrepeso dos menores.
Dependendo da idade das crianças são os pais que são diretamente responsáveis pelo aumento de peso, segundo avaliação da psicóloga e professora da faculdade de psicologia da Universidade Metodista, Angélica Capelari. “É difícil dizer não, mas se a criança receber tudo o que pede e o alimento não for adequado vai engordar. No futuro, certamente irá sofrer as consequências.”
De acordo com a nutricionista Adriana Padilha, se o problema já está consumado é preciso que a família aceite que também precisa se tratar, ou seja, a reeducação alimentar é para todos. “Não adianta passar para os filhos o que não pode comer e na mesa da família ter o alimento. Se isso for imposto só para a criança, ela vai ficar reprimida e passará a comer escondido. Os pais precisam se tratar também, pois são eles que colocam a comida em casa”, explicou a médica que atua no Hospital Assunção, em Santo André.
Ainda segundo a profissional, um tratamento contra sobrepeso de crianças é de longo prazo. “É uma mudança cultural na família.”

Entre os fatores que podem alavancar ou piorar o quadro de obesidade na infância é a dinâmica familiar. Morte de familiares ou animais domésticos, pressão sobre desempenho escolar por parte dos pais e colégio podem levar a um consumo maior de alimentos.
Além disso, especialistas afirmam que é preciso atenção com outras questões. “Tem pais que também pensam que só porque o filho come pouco não pode ficar obeso. A questão é saber o que está comendo, pois mesmo se for em pouca quantidade, mas tudo muito calórico, ele engordará”, afirmou a psicóloga hospitalar e clínica do Hospital Brasil, Adriana Scaff.
Para a endocrinologista Milena Caccelli, também faz parte do tratamento mudanças de hábitos em casa. Assistir tevê mais do que uma hora por dia é prejudicial e aumenta a ingestão de alimentos. As atividades físicas recreativas, ou seja, aquelas não competitivas, precisam também ser incentivadas. “Os pais também precisam se exercitar, pois quem tem pais obesos tem 50% de chance de ficar obeso. E uma criança acima do peso tem 90% de chance de se tornar um adulto obeso”, alertou a médica que atua no Centro de Especialidades Heloisa Pamplona, em São Caetano. “A atenção deve existir até no lanche da escola.”

O pediatra e professor assistente da FMABC (Faculdade Medicina do ABC) Luiz Alberto da Silva, disse que a grande preocupação que existe atualmente é com a “epidemia de obesidade infantil”. Para ele, não só os aspectos externos são preocupantes, mas doenças como diabetes e pressão arterial podem aumentar. “A reeducação alimentar da criança não é só de responsabilidade dos pais. É dos médicos que atendem e também da própria criança. A partir dos seis anos já é possível que ela entenda que se comer qualquer coisa ficará doente”, disse o médico que ainda alertou: “É preciso conscientizar a criança, pois os pais não tem controle sobre ela 100% das vezes.”

O pediatra também disse que menores não devem fazer dietas de adultos, pois precisam de todos os nutrientes.
A cidade de São Caetano tem um programa municipal de Controle à Obesidade Infantil. De acordo com a prefeitura, a ação conta com equipe multidisciplinar de pediatria, nutricionista, psicóloga, atividade física junto a Secretaria Municipal de Esporte e Turismo, fonoaudiologia, enfermagem e especialidades médicas.
Os pediatras das Unidades Básicas de Saúde atendem as crianças, avaliam as condições físicas, crescimento, desenvolvimento e encaminham à UBS Caterina Dall'Anese. As crianças passam em consultas. Os atendimentos são todos gratuitos.

Em Diadema, não há um programa específico para tratamento de crianças obesas, mas a administração informou que quando é diagnosticado este problema, o jovem é encaminhado para tratamento com acompanhamento dos serviços de Endocrinologia e Nutrição do Quarteirão da Saúde.

Este encaminhamento segue o protocolo de regulação do acesso dos pacientes com quadro de obesidade. Primeiro a criança passa por consulta com o endocrinologista. Na sequência é encaminhada a um nutricionista, cujo atendimento pode ser individual ou em grupo. O acompanhamento do quadro é feito por médico clínico geral ou generalista nas unidades de saúde.

A prefeitura de São Bernardo informou que mantém o Ambulatório de Distúrbios Nutricionais para perder peso ou combater a desnutrição para crianças e adolescentes. Implantado há oito anos, o serviço funciona de segunda a sexta-feira de forma descentralizada em três Unidades Básicas de Saúde: Vila Euclides, Leblon e Vila Marchi.
No total são 3,4 mil pacientes de 0 a 19 anos matriculados desde 2003 e mil em acompanhamento, entre obesos, desnutridos, alérgicos à proteína do leite de vaca, problemas de colesterol e triglicerídios, baixa estatura, sobrepeso e intolerância à lactose. Desse total, 51% dos casos são de obesos e 27% de desnutridos.
O serviço reúne equipe de três nutrólogas com formação em hebiatria, além do suporte de uma psicóloga. Os pacientes primeiro passam por consulta e avaliações com médico pediatra ou hebiatra das unidades de saúde.
Consciência
Talita, de 10 anos, engordou mais de 10 quilos no último ano. Para a mãe, Rosangela Menezes de Oliveira, de 40 anos, a menina começou a ganhar peso após começar a escolher o próprio alimento.

“Ela sempre foi muito ativa, mas realmente começou a engordar muito. Vou marcar consulta para acompanhar isso direitinho. Me preocupo com a autoestima e saúde dela”, contou a dona de casa.

A moradora de Santo André contou que há 15 dias incentivou a menina a parar de comer besteiras para deixar de ganhar peso. “Cortei a margarina dela, mas vou ao médico mesmo assim.”